Descascando o jetom do ‘Stuckert’ de Zema
O superintendente de comunicação digital do governo mineiro, Aluísio Eduardo Caetano de Medeiros, ganhou um agrado de seu chefe, o governador Romeu Zema (Novo). Desde o ano passado, ele integra o conselho de administração da Prodemge, a companhia de tecnologia da informação do Estado.
O jetom — adicional pago por participação em conselhos — é uma forma comum de turbinar os salários dos assessores mais próximos e fiéis. Du, como é conhecido, acompanha Zema em diversas viagens, incluindo internacionais. Já esteve ao lado do governador na Itália, em Portugal e até na China e no Japão. Nessas missões, atua como fotógrafo e cinegrafista do chefe do Executivo.
Assim como o fotógrafo Ricardo Stuckert desempenha esse papel para o presidente Lula (PT), Du é apontado como uma das mentes por trás das postagens no perfil pessoal de Zema.
Recentemente, o governador postou um vídeo comendo banana com casca, aparentemente para ironizar uma declaração de Lula sobre a inflação dos alimentos. A provocação, no entanto, não saiu como esperado e virou motivo de deboche.
Em outras publicações, Zema já compartilhou frases do líder fascista Benito Mussolini e classificou a Inconfidência Mineira como um golpe. “Estudar de menos e opinar demais: essa é a melhor desgraça do brasileiro”, escreveu certa vez, citando o falecido guru bolsonarista Olavo de Carvalho.
A recepção dessas postagens não agrada nem mesmo setores da direita, mas parece encantar o governador. Afinal, seu superintendente de comunicação digital passou a receber um acréscimo de R$ 6.045,60 nos vencimentos pela participação no conselho da Prodemge, além do salário de R$ 15.063,03 pelo cargo na comunicação.
Antes de integrar o governo Zema, Du foi diretor de comunicação da prefeitura de Visconde do Rio Branco, cidade de 40 mil habitantes na Zona da Mata.
Torta de climão
Já se passou mais de um mês desde a performance de Romeu Zema comendo banana, mas o governador segue escorregando na casca que não tirou.
Na terça-feira (11), o presidente Lula esteve em Minas Gerais para dois compromissos com grandes empresas: uma visita à fábrica da Stellantis (Fiat), em Betim, e outra à Gerdau, em Ouro Branco. O encontro entre governador e presidente foi marcado por uma troca explícita de alfinetadas, resultando em uma torta de climão.
Após atacar o legado petista, Zema ouviu o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, direcionar sua fala a Lula: “Presidente, eu sei que o senhor gosta de comer banana sem casca, mas o que o senhor faz mesmo é descascar grandes abacaxis em favor dos brasileiros.”
Rolando Lero
Alexandre Silveira, que já foi secretário no governo tucano de Antonio Anastasia, mudou de lado e hoje é um aliado próximo do presidente Lula. A forma como trata o petista publicamente, em certos momentos, faria até Rolando Lero — o puxa-saco interpretado por Rogério Cardoso na Escolinha do Professor Raimundo — pensar que bajulação tem limite.
Cadeira vazia
Pela manhã, durante o discurso de Zema na Fiat, a primeira-dama Janja da Silva manteve os braços cruzados e evitou olhar para o governador. Já à tarde, quando Zema discursou na Gerdau, Janja simplesmente deixou o palco.
Ainda não se sabe qual foi sua reação à fala do marido no dia seguinte, durante uma cerimônia no Palácio do Planalto. Na ocasião, Lula declarou ter colocado uma "mulher bonita" na articulação política de seu governo para "melhorar a relação" com o Congresso Nacional.
O presidente se referia à ministra Gleisi Hoffmann, recém-empossada na Secretaria de Relações Institucionais.
"Uma coisa, companheiros, que eu quero mudar, estabelecer a relação com vocês, por isso eu coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, é que eu não quero mais ter distância entre vocês", disse o petista.
Passou pano
A ministra Gleisi Hoffmann se manifestou no dia seguinte, defendendo o presidente. Ela afirmou que Lula tem um histórico que o credencia na luta das mulheres por espaços de comando e poder. Gleisi também disse ter ficado indignada com os "bolsonaristas que usam disso para fazer um jogo baixo".
Tio do pavê
Recomendo a leitura do texto que Milly Lacombe escreveu a respeito: O machismo de Lula dá sinais de estar piorando e precisa ser contido. Deixo um trecho aqui:
Ninguém vira o tio do pavê da noite para o dia. É um processo. Um processo que Lula poderia ter interrompido há anos. Mas ele escolheu seguir nele. Cercado de conselheiros que pensam de modo decadente quando o assunto é gênero, ele reforça paradigmas mentais e se nega a evoluir.
Mudou o título
Na visita a linha de montagem da Fiat, em Betim, funcionários tietaram e aplaudiram Lula efusivamente. Rapidamente, o jornal O Tempo noticiou que o presidente foi “ovacionado”. Menos de uma hora depois, no entanto, o título foi alterado para um anódino: Lula visita linha de montagem automotiva em Betim. O print, contudo, é eterno.
A saber: o dono do jornal, Vittorio Medioli, também é proprietário da Sada Transportadora, uma das maiores prestadoras de serviço da Fiat. Medioli deixou recentemente o comando da prefeitura de Betim e escreve com frequência em sua coluna no próprio jornal, publicando textos antipetistas.
Sem o boné vermelho
Na semana passada, Lula também esteve em Minas Gerais, desta vez para anunciar medidas de reforma agrária em uma área do MST. Escrevi para a Carta Capital uma coluna analisando como o presidente transformou o evento em uma peça de marketing, evitando gestos, palavras — e até o uso do boné vermelho — para não desagradar o agronegócio. Leia: A reforma agrária que coube na foto.
Ouro de tolo
Também escrevi sobre um ato recente do governador Romeu Zema. A reportagem publicada na Repórter Brasil revela que a CSN recebeu do governo mineiro o direito de desapropriar 261 hectares em Congonhas, na região central do estado, para depositar rejeitos de minério.
Moradores de Santa Quitéria, comunidade que busca reconhecimento como quilombola, temem que a área "desapareça" devido aos possíveis impactos ambientais e desconfiam de informações desencontradas sobre a existência de pesquisas de ouro na mesma região. Leia: Zema autoriza desapropriação para rejeitos da CSN em área já cobiçada por ouro.
Nikolas no jogo
As movimentações de bastidores para a sucessão de Romeu Zema seguem agitadas. Na quinta-feira (14), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) visitou a Câmara Municipal de Belo Horizonte e afirmou que não descarta ser candidato ao governo de Minas Gerais.
"Possibilidade (de ser candidato a governador) sempre existe. A gente sabe que é um cargo que exige extrema responsabilidade, que a situação fiscal de Minas não está boa, mesmo com o governador Zema fazendo um incrível trabalho econômico, principalmente. Mas não descarto", disse ao repórter Leonardo Augusto, do jornal O Tempo.
Até o momento, o nome mais provável da extrema direita para a disputa é o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), que conta com o apoio do próprio Nikolas. Pela direita que tenta não parecer tão extrema, aparece o atual vice-governador, Mateus Simões (Novo). Já pela centro-direita, o senador Rodrigo Pacheco (PSD) é o preferido do presidente Lula (PT), que já identificou um vazio da esquerda na disputa pelo governo mineiro em 2026.
Tapas na mesa
Nikolas Ferreira esteve na Câmara de Belo Horizonte para acompanhar a votação de duas moções pró-anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Após um debate acalorado entre os partidários da tentativa de golpe e os defensores da democracia, as moções foram aprovadas. Durante a sessão, o vereador Ville (PL) gritou com a vereadora Iza Lourença (PSOL) e bateu na mesa da parlamentar. Assistam à resposta de Iza:
Sem anistia
Empossada como presidente do Superior Tribunal Militar (STM) na quarta-feira (12), a mineira Maria Elizabeth Rocha defende que a Lei de Anistia não se aplica a crimes da ditadura que envolveram ocultação de cadáveres — como o do ex-deputado Rubens Paiva, retratado no filme vencedor do Oscar, Ainda Estou Aqui.
Ela é casada com o general da reserva Romeu Costa Ribeiro Bastos, irmão de Paulo Costa Ribeiro Bastos, militante do MR-8, capturado, torturado e jogado no mar. O nome do cunhado da presidente do STM está entre os 434 mortos e desaparecidos políticos listados pela Comissão Nacional da Verdade, assim como o de Rubens Paiva.
Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados, dizia Millôr Fernandes
Perdeu a linha
Chamou atenção nesta semana a agressiva resposta da Prefeitura de Belo Horizonte ao diretor de jornalismo da Band Minas, Murilo Rocha. Durante sua análise política diária na BandNews FM, o jornalista fez uma crítica pertinente à falta de transparência sobre o estado de saúde do prefeito Fuad Noman (PSD) e ao grupo de secretários que, segundo ele, não querem "largar o osso", impedindo que o prefeito em exercício, Álvaro Damião (União), assuma de fato o comando.
"As palavras do referido jornalista – permeadas de ilações, termos chulos e defesa de atos golpistas – soaram como um desrespeito", diz trecho da nota enviada pela PBH. Apesar do tom carregado de adjetivos, o texto foi assinado genericamente pela prefeitura, funcionando como um escudo covarde para seu autor.
Vale assistir, na íntegra, à resposta do jornalista:
Não deixe de escutar e ler:
Vale ouvir a entrevista de Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, ao podcast da Agência Pública. Cinco anos após a pandemia, ela alerta para os riscos dos movimentos antivacina no Brasil.
Na Sumaúma, Catarina Barbosa expõe como R$ 9 bilhões em crédito rural, incluindo verba de bancos públicos, foram parar nas mãos de desmatadores e financiadores da extrema direita na Amacro, a fronteira agrícola que engloba o sul do Amazonas, Rondônia e Acre.
::Expurgo 16::
Por que ler Vermelho Amargo (2011 – Cosac Naify - 69 páginas) de Bartolomeu Campos de Queirós?
Recebi Vermelho Amargo de presente em 2015. Uma amiga, conhecendo a história da minha infância e compartilhando comigo conversas sobre literatura, me deu o livro.
Foi assim que conheci Bartolomeu Campos de Queirós, através daquele pequeno livro bordô de capa dura — um corpo belíssimo, como todos os da Cosac Naify.
Bartolomeu merece ser lido não apenas pelo tamanho de sua obra, mas também por sua autoria do incrível Manifesto por um Brasil Literário e pelos inúmeros prêmios que recebeu. Temos orgulho de contar com mais de trinta livros dele em nossa biblioteca — a maioria voltada para o público infantojuvenil, gênero pelo qual tenho profunda admiração.
Nascido em Pará de Minas, em 1944, Bartolomeu publicou mais de 70 livros ao longo dos 67 anos que viveu. Em Vermelho Amargo, ele colocou toda a dor e angústia causadas pela morte prematura de sua mãe e pelo desconforto de ter sido criado por sua madrasta.
Dizem que, apesar de extremamente curto, Bartolomeu levou anos para escrever esse livro, escolhendo com extremo rigor cada palavra. Vermelho Amargo venceu, in memoriam, a categoria Melhor Livro do Ano do Prêmio São Paulo de Literatura 2012.
A beleza da prosa poética da obra está na forma como o autor não apenas narra fatos, sentimentos e pensamentos vivenciados, mas também revela, de maneira única, como cada um de seus irmãos — e até mesmo seu pai — experimentou a ausência da mãe e a presença da madrasta.
O encanto de Vermelho Amargo surge dessa combinação entre a rigidez de Bartolomeu com a escolha das palavras e sua sensibilidade sem limites.
Essa sensibilidade aparece no modo como a madrasta cortava o tomate, na maneira como o pai se lembrava dos filhos durante as viagens, no irmão mais velho que mastigava vidro e apresentou Bartolomeu à escrita, na solidão da irmã que foi encaminhada ao casamento como forma de aliviar o peso financeiro da família.
A obra também diverte ao retratar a presença dos avós na vida do menino Bartolomeu e suas descobertas sobre a própria sexualidade.
Existe uma melancolia constante nas páginas de Vermelho Amargo, mas, ao contrário do que se poderia imaginar, ela não causa repulsa. Creio que a dureza do autor consigo mesmo, na escolha minuciosa das palavras, nos deixa boquiabertos diante da imensidão de sua escrita.
Não tive o privilégio de conhecer Bartolomeu pessoalmente. No entanto, visitava um cantinho na Livraria Quixote, na Savassi, em BH, dedicado a ele.
A melhor definição para sua escrita vem de seu amigo Frei Betto, a quem Bartolomeu dedicou o livro Menino de Belém e de quem recebeu outra homenagem no livro Minas do Ouro:
"Sua escrita é canto, luz, vereda e afago. Cada frase lindamente esculpida! Proíba-se de tudo o mais para só escrever, porque é a sua única e irrecorrível sentença de vida."
Muito bom!!
Bartolomeu é sempre homensgeado em.sua terra natal! Era tio de uma ex-funcionária nossa!
Querides, parabéns por essa edição!
Cris, eu fiquei curiosa em saber como o livro te tocou. Precisamos encontrar pra vc me contar!
Parabéns, parabéns!