Nas entranhas do Partido Itatiaia
O jornalista Leonardo Ângelo (Cidadania) foi eleito para a Câmara Municipal de Belo Horizonte, mas pode perder o outro emprego que tem, na rádio Itatiaia. Pegou mal com os patrões da emissora ter participado de um jantar para articular a candidatura de Juliano Lopes (Podemos) para a presidência do legislativo municipal. O encontro reuniu 23 vereadores e foi organizado pelo secretário da Casa Civil do governo mineiro, Marcelo Aro (PP).
O comando da Itatiaia, fortemente alinhado ao prefeito reeleito Fuad Noman (PSD), ficou irritado com a ida de Ângelo à reunião sem prévia comunicação. O vice-presidente da rádio é o deputado estadual João Vítor Xavier, que acumula os cargos com o comando do Cidadania, partido de Ângelo.
Se esticar a corda, Ângelo vai precisar mudar seu nome de urna, pois foi eleito como: Leonardo Ângelo da Itatiaia. Depois do pleito, ele ainda não retornou para a apresentação do programa Café com Notícia e já tirou o nome da rádio do sobrenome na conta do Instagram.
A aproximação de Ângelo ao grupo de Marcelo Aro teria ocorrido após pressões partidárias para a divisão de cargos em seu gabinete.
Vale lembrar que o empresário Rubens Menin comprou a Itatiaia da família Carneiro em 2021. Mais do que uma rádio, o bilionário comprou um “partido político”. Além de Ângelo e João Vítor, a rádio tem em seus quadros Álvaro Damião (União Brasil), eleito vice-prefeito de Fuad e o deputado estadual Mário Henrique (PV), o Caixa, narrador dos jogos do Atlético-MG.
Desde sua fundação em 1952, mais de 30 políticos foram eleitos usando o microfone da rádio. Entre eles, Laudívio Carvalho, Dirceu Pereira, Alberto Rodrigues e o atual senador Carlos Viana (Podemos), que, ao ser eleito, também era apresentador da TV Record.
Principal acionista da SAF do Galo, Menin é dono da MRV, do banco Inter, do canal de TV CNN e um grande financiador de campanhas políticas, que apostou para valer na eleição de Fuad. Somando as quantias doadas por ele, pela esposa, pela filha, pelo filho e pelos dois sobrinhos, o volume chega a 9,1 milhões de reais, considerando as últimas cinco campanhas eleitorais e diversas candidaturas apoiadas.
Imagino que os leitores já saibam
Por trás dessa cara fofa da Capivara de Paletó, estou eu: Daniel Camargos, um repórter de 42 anos e com mais de 20 de estrada - principalmente de terra. Agradeço a confiança de quem está aqui nesta primeira edição e peço que, caso gostem, ajudem a compartilhar este boletim. Pela atenção, obrigado. Vamos em frente!
Pé-frio
O procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares, postou nesta semana todo orgulhoso que seu filhote, o advogado João Rafael Soares, viajou para os Estados Unidos para participar como observador das eleições americanas. O paizão pediu para o filho trazer a vitória de Kamala Harris, mas deu ruim.
Quem tem pai tem tudo
A saber: João Rafael é funcionário do gabinete do presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD) desde 2019. Em outubro recebeu salário de R$ 14 mil. Além do filho do procurador-geral, ex-prefeitos das cidades mineiras de Arcos, Poços de Caldas, e Cássia estão entre os funcionários comissionados do gabinete de Pacheco.
Nepo babies
Ao escrever sobre o filho do procurador, lembrei-me da expressão em voga: nepo babies. Criada pela imprensa dos EUA para tratar das celebridades que nascem famosas e percorrem um caminho fácil para o estrelato, a expressão faz uma corruptela com a palavra nepotismo. O site da revista Veja listou alguns nepo babies que disputaram as últimas eleições, entre eles os filhos de Bolsonaro e a neta de Brizola.
Estrelinhas
Faltou listar os nepo babies mineiros. Em BH, dois vereadores do PT vão estrear no legislativo e podem agradecer ao sobrenome pelos votos. Luiza Dulci, sobrinha do ex-ministro Luiz Dulci e Pedro Rousseff, sobrinho-neto da ex-presidente Dilma Rousseff. Lá vão encontrar Pedro Patrus, reeleito, que é filho do deputado federal Patrus Ananias, ex-prefeito de BH. Alguns dizem que eles representam a renovação da esquerda. Será?
Adote esse cãozinho
Fofo demais, né? Contato na página Adoção BH no Instagram.
Sobe
Elevadores da Cidade Administrativa voltaram a funcionar parcialmente nesta semana, depois de meses parados em razão de falhas nos trilhos do fosso dos prédios. No primeiro dia, pelo menos um dos novos equipamentos já apresentou problemas.
Desce
A crise dos elevadores remete à dificuldade do governador Romeu Zema (Novo) de "elevar" seu nome para o cenário nacional. Após as eleições municipais, o governador mineiro perdeu fôlego na disputa dos presidenciáveis da direita e da extrema-direita. Se quiser chegar no topo da política, Zema vai precisar de um bom ascensorista.
Malandro é o cavalo marinho, que finge que é peixe pra não puxar carroça
Depenados
Responsáveis pela criação da Cidade Administrativa, os tucanos foram novamente vistos ‘sobrevoando’ a Prefeitura de Belo Horizonte. Depenados na última eleição, quando viram a força do partido diminuir mais uma vez, lideranças do PSDB mineiro se reuniram com o prefeito reeleito, Fuad Noman (PSD), na segunda-feira.
Amor antigo
O PSDB apoiou formalmente a campanha do prefeito à reeleição e quer cobrar a fatura. Os deputados federais Aécio Neves e Paulo Abi-Ackel foram sondar a possibilidade de emplacar o nome do ex-deputado estadual e goleiro aposentado do Atlético-MG, João Leite, no primeiro escalão da nova gestão de Fuad. Vale lembrar: os primeiros passos de Fuad na política foram justamente a partir do ninho tucano.
Em busca da xuranha perfeita
Xuranha é o bolinho de carne. Ou disco voador, como preferirem. Alguns chamam também de prexeca. Caminho pela cidade olhando as estufas em busca de uma que seja crocante por fora, macia por dentro e bem temperadinha Já encontrei várias que me deixaram plenamente feliz. No bairro Sagrada Família, recomendo as do Bar Diamantina (servida com cebola roxa fatiada fininha por cima) e do Bar du Magrelo, perto do Estádio Independência.
Saudade
Não me sai da memória uma que comi em um bar na rua Curitiba, quase esquina com Augusto de Lima, no centro de BH, há quase 10 anos, enquanto aguardava para fazer a cobertura da festa de aniversário de 35 anos do PT, que contou com a presença e discurso do então presidente do Uruguai, Pepe Mujica, que estava em seu último mês de governo.
Recado
“Nunca se sintam os patrões do Brasil”, disse Mujica para os militantes petistas, que lotaram o Minascentro. O então presidente uruguaio conclamou para que eles não fossem enganados pela sociedade de consumo: “Aprendam a viver com pouco”.
Apocalipse amazônico
Por falar em presidente gringo, a eleição do republicano de extrema-direita Donald Trump nos EUA foi péssima para a Amazônia. Explico o motivo na coluna que escrevi nesta semana para a Carta Capital
Senta que lá vem história…
O grande repórter Rubens Valente entrevistou para a Agência Pública o ex-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso (Pará), Agamenon Menezes. O ruralista disse atrocidades na reportagem publicada na última segunda-feira (4). Contou que já planejou esquartejar um servidor da Funai, colocou para correr ativistas do Greenpeace e deu uma surra em um repórter da Globo.
Nada que surpreenda quem conhece. Em 2019, entrevistei Menezes lá em Novo Progresso. Dias depois, foi a Polícia Federal quem bateu à porta de sua casa, investigando a participação no episódio que ficou conhecido como Dia do Fogo — quando fazendeiros e empresários articularam em um grupo de WhatsApp para queimar a floresta amazônica.
Quatro anos depois, participei de uma equipe, coordenada pelo Forbidden Stories, que revelou que o genro de Menezes registrou o Cadastro Ambiental Rural (CAR) de quatro fazendas localizadas dentro de áreas de preservação queimadas justamente no Dia do Fogo. Que coisa, né?
Além de se gabar da violência, na entrevista que concedeu ao Rubens, o ruralista estava com um boné na cabeça que vale a atenção e contribui para entender o pensamento daqueles que atuam como ele. O boné verde tem escrito “O Quinto Movimento”, título de um livro do ex-comunista e ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo.
Rebelo virou o guru dessa banda truculenta do agronegócio na Amazônia. A Cláudia Antunes escreveu um perfil completíssimo dele para a Sumaúma, cuja leitura recomendo.
Não deixe de ler (ou ouvir) também
Análise da InfoAmazônia traz, em mapas, o posicionamento dos prefeitos e vereadores eleitos em relação à pauta ambiental e climática nas cidades da Amazônia.
O podcast Escafandro fez um episódio sobre os “falsos gringos”, uma febre na música brasileira dos anos 1960 e 1970.
O blog Meia Encarnada do craque Douglas Ceconello, traz esta semana uma análise da mitologia do Gabigol.
Capivara de Cropped
Acredito que só a arte e a literatura expulsam as coisas ruins das pessoas. Por isso, convidei a <3 Capivara de Cropped <3 para compartilhar por aqui sugestões de leituras e suas reflexões.
Expurgo 01
Por que ler Luxúria de Raven Leilani e Virgínia Mordida de Jeovanna Vieira?
São os romances de estreia de duas mulheres negras, a estadunidense Raven Leilani (38) e a capixaba Jeovanna Vieira (39). As protagonistas dos dois livros também são jovens mulheres negras vivendo em grandes centros urbanos, Nova York e São Paulo.
Tanto Luxúria quanto Virgínia Mordida narram relacionamentos heterossexuais contemporâneos despidos de qualquer amarra ilusória.
Luxúria, aliás, vai além da desilusão em aspectos que ultrapassam o relacionamento afetivo ou sexual. A autora consegue colocar em seus personagens pensamentos e ações que nos perturbam mais que a imagem das milhares de baratas e ratos que sempre nos esperam nas estações do metrô.
Em Virgínia Mordida, o modo como a protagonista tolera a violência psicológica a que se submete nos constrange na mesma proporção que imaginar a beleza dela nos atrai.
As relações de gênero, classe social, raça e a violência sofrida por mulheres são trazidas nas duas obras de maneira crua e real. Nos dois livros, o sofrimento das protagonistas misturado àquilo que elas próprias causam nos demais personagens, leva a um desconforto incessante, e confesso, muito interessante.
Desejei o gosto amargo do fel em vários momentos da leitura. Talvez pela certeza de estar fora das obras, sabendo, assim, que meu corpo não passaria por qualquer fase do enjoo.
Buscar vítima e algoz nos conforta enquanto capivaras. Quiçá em tempos de polarização cada vez mais latente. E daí vem o expurgo destas duas leituras, pulsão e cura por sermos colocados, a cada instante, no lugar de um personagem.
Queridos, amei, amei!!! acabei de ler
Ficou com aquele humor ácido tao proprio de Daniel e com a pegada cult da Cris! Sigamos!!!